quarta-feira, 27 de maio de 2009

Canção do Micróbio


Nós, que nesse aquário,
Que é a nossa gota d'água,
Nessa farra do boi,
Vivemos,
Nunca percebemos a nossa existência
Microscópica
Como que trancados em um armário,
Presos numa vida ridícula,
Em uma lâmina, numa película.
Sempre solitário,
Na nossa vida de protozoário.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

O dia de hoje

O dia está extremamente bonito hoje
As nuvens dançam
Coreografadas pelo vento e pelo sol
Que ventam e soleiam

Esticam-se, elas, as nuvens
Distendendo pernas, braços e pescoços
Num ritmo quebrado
Fazendo muitas formas
Extremamente plásticas
Sob o céu azul

São bailarinas contemporâneas
No palco do firmamento
Ao som do próprio respirar do dia
Cantado por esta mesma poesia

De repente, adentra a rolinha
É protagonista
Solando em braçadas rápidas
Nadando, voadora, o céu sem fim

A rolinha, tola como só ela,
Acrescenta notas à música do dia
Notas da sua própria alegria
Tola.

Ela não vê as nuvens.
As nuvens não veêm nada.
Não são humanos, e, por isso,
Não dançam,
Não rimam,
Não nadam,
Não nada.

E este é só mais um dia comum
E eu, que sou só mais um
Poeta triste
Esqueço desse dia,
Acabo essa poesia.

domingo, 17 de maio de 2009

Às Revoluções

O tempo passou e a nós comeu.
Nós, humanidade, seres humanos:
Culturadores, racionais, científicos, geniais,
Nós fomos todos comidos.

O que nos resta da beleza das revoluções?
Por que perdemos a ingenuidade das gerações passadas?
Temos algumas memórias arrancadas,
Pedaços flutuantes, galopantes, inconstantes
Como o clima.

Ah! o clima!
O agente da destruição e da redenção;
Cadavérico ser, com as mãos sujas,
Molhadas, roxas.

O que são as pirâmides do Egito?
Ou as árvores centenárias dos parques?
Seres empalhados por essa velhice
Que escorre como seiva,
E voa na poeira das areias das revoluções.

Tempo maldito em que vivo!
Inundado de morte e hipocrisia.
Afunde-se! Afogue-se!
Pois as águas da minha melancolia
São mais altas que o céu.
Cantando nosso grito de guerra,
Elas cavalgam pelos tempos, pelas eras,
E Cronos, nosso inimigo, nosso réu,
Munido de sua foice dos demônios,
É soberano sobre nós,
Mas não controla nossa vontade.
Se é só na força da amizade
Que posso contar para não ser vencido,
Nela permaneço,
E espero, e esqueço,
Pois também eu serei esquecido.