segunda-feira, 6 de julho de 2009

Máquina do tempo

aos meus pais
Nas estantes da memória
Estão todos os objetos
Que já tocamos
Nas paredes do nosso quarto
Estão todas as camadas
Que já pintaram-na
Nas membranas e nossos alvéolos
Está um pouco de cada atmosfera
Que já respiramos
E se, por um acaso
Decidirmos mexer na estante
Ou descascar as paredes
Ou mesmo descamar nossos brônquios
Teremos, por um instante
Por um momento
Uma viagem no tempo.
O passado tornar-se-á presente
E nosso pai falecido estará presente
E ganharemos, de presente
Um filme - a cores - de nossa vida
Nos carretéis de película das lembranças
Poderíamos, se nos apetecesse,
Voltar à infância
E brincar com as outras crianças
Antes que escurecesse
E talvez, em nossa ânsia,
Avançaríamos à flor-da-idade,
Às rodas de namoricos
Da mocidade.
E dançaríamos, nos bailes,
Vestindo aquela moda brega,
Rindo da nossa adolescência,
Rindo de saudade.
Aí viriam as primeiras grandes escolhas
E a consumação de um grande amor
O casamento.
Voltar no tempo
É lembrar:
Da primeira bicicleta
Do primeiro dia na escola
Da primeira série
Da primeira medalha
Do primeiro álbum completo
Da primeira pecinha
Do primeiro beijo
Do primeiro namorado
Da primeira dança
Da primeira apresentação séria
Da primeira vez
Da primeira briga
Do primeiro dia na faculdade
Da primeira viagem juntos
Do primeiro carro
Da primeira casa
Do primeiro - e único! - casamento
Do primeiro filho
Da primeira noite sem dormir
Do primeiro segundo filho
Da primeira experiência de um filho calmo
Do primeiro terceiro filho
Da primeira pecinha dos filhos
Da primeira viagem da família
Da primeira viagem internacional
Do primeiro animal de estimação
Da primeira medalha dos filhos
Da primeira apresentação séria dos filhos
Do primeiro filho entrando na faculdade
Do primeiro poema do filho do meio.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

capítulo 1: do processo de criação

Sempre me disseram que toda narração possuí algumas características: enredo, lugar, tempo, e personagens. Talvez tivesse mais coisas, mas só me lembro dessas mesmo. Bem, sendo assim, seria bom eu te informar acerca disso: o enredo gira em torno de um amigo de um amigo meu, que foi, como muitas vezes já havia feito, lanchar em uma casa de sucos em frente de onde ele estuda e lá deparou-se com situações incomuns, que levam a um desfecho interessante o suficiente para ser narrado; o lugar, como já foi mencionado, é uma casa de sucos, apertada, comprida, feita em sentido longitudinal, de forma que o balcão fica de um lado e os bancos do outro, com o caixa no fundo, tem paredes brancas com azulejos coloridos, como a maioria das casas de sucos, servem sanduíches e hamburgueres bem naturebas, todos os tipos de sucos, açaí com uma enormidade de coisas, saladas, e também possuem alguns pratos feitos, desnecessário dizer que estamos no Rio de Janeiro, Brasil, mais precisamente no bairro do Cosme Velho; encontramo-nos há umas três semanas atrás, ou seja, junho de 2009; o personagem, que já foi levemente mencionado, é amigo de um amigo meu, não sei seu nome, mas lembro que é alto, magro, e tem cabelos pretos, é meio calado, meio falante, gosta de pintura e de desenhar, das saladas verdes com azeitona e alho, daquelas figuras que chamam de "olho mágico", que quando você olha de um jeito certo, ela vira uma imagem 3D, e de escrever poesia. Além dele, aparecerão também: Alexandre, o balconista da casa de sucos, sujeito simpático, que já virou amigo do protagonista por conta da fidelidade deste à casa; Maria, uma colega do colégio, que o protagonista acha atraente, mas meio idiotinha, e que vai lanchar na casa de sucos; e uma mulher muito cheia de não-me-toques que o protagonista acha uma escrota. Bem, acho que falei de tudo.