quarta-feira, 27 de novembro de 2013

meu medo

medo mole
segurando esse corpo tenso
trincado
entrincheirado modelo
alimento medo
meu meio, meu super eu
meu medo melado de seu

medo mole
suando as mangas das blusas
nojento
enlameado futuro
alimento dedo
meu meio, meu super eu
meu medo melado de seu

medo mole
chorando esse húmus venal de ser
clínico
fungada mucosa
alimento rosa
meu meio, meu super eu
meu medo melado de seu

se eu existi como na memória
me impeça de afundar na inglória do medo
segredo com segredo
como contas de uma dúzia de conchas cheias de oceano
mergulha

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Abarca

A barca a balançar
deixa o ritmo amargurado;
Ok, a vista é linda,
mas nada mais brega que uma vista linda
que a baia de Guanabara e as montanhas do Rio banhadas de luz de final da tarde depois de uma longa chuva, lavadas de ciano, a leveza do branco azulado do céu com o azul acinzentado do mar; brega, poxa.
As luzes da cidade começam a se acender,
os postes se preparam pra noite
Sete da noite
Filmagem noturna cansada
Essa viagem é só amargura.
E a cura está nela
Na água gelada
Funda da Baía de Guanabara
Mergulha

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

mazes of sleep

sweet
eu e você num beco nosso só nosso que mal existe só na gente
i fall asleep
sweeping dreams from my certain regard
réves toi
have you got the guts?

sweet
eu e você somos só nós dois olhando um pro outro, relaxa
não tem nada mais que isso
feel the same as i do
escolhe, poxa; relaxa
keep calm
e chega de recalque, né?

wanna be yours, sabe?

oceano longe e fundo demais pra gente
eu e você distantes de tão prematuros, tão imaturos, tão duros e indecisos
dentes de leite da frente
você e eu
não sou eu nem você
é um céu e um breu
um véu
você e eu
nós somos um só pássaro
e nenhum ninho
entende?
nem eu nem você
nem ninguém, caralho
pode achar mais fundo, mais doce, mais sonho, mais olhar
que o profundo poço fundo
i'm always before you
call my name
je suis
seu céu célere sempre, ceci
marina, marina, laura
i'm all now
mortal
marina, marina, júlia
acesso interminável de memória
mergulha

(O ano que passa tão longe de mim
e que enriquece o solo, mas não o mundo
mantém-se afastado como um computador)

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

lírio entulho

nulo
entulho
breu
todo o mundo em obras
fumaça, tinta, madeira, alvenaria vermelha, espigões de vigas metálicas febris rangendo dinossauros
O mundo em obras como um parque temático
ela branca calada
pelo meio do passeio
usa óculos
avenida descascada
ruína ao redor
lights slightly like blue
ela levada leve
lights slightly like yellow
ela levada
lights slightly like you
todo o mundo em obras
vidros sujos sem reflexo e espelhos, água morta de cais, aquele cheiro de maresia suja, centro da cidade ao domingo, prédios muito altos, todos em ruínas, em obras, em vida média
O mundo como um parque industrial
ali
a flor
linda
branca
mergulha

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Estevão Esteve

O doutor o olhou de cima a baixo depois do check-up de 10 dias de exames físicos, sanguíneos, de desempenho, de urina, psicotécnico, de vista, de matemática, de acidez estomacal, de toque, de fezes, auditivo, odontológico, limpeza de pele, urológico, búzios, completo, tudo completo, tudo muito certo e metódico, tudo preciso, toxinas, vitaminas, benzinas, hormônios, libido, psicológico, e por cima dos óculos de meio-aro quadrados e grandes disse num tom ansioso e levemente sibilante, como que carregado de uma sensualidade mórbida: apesar de todo o procedimento posso concluir com absoluta certeza medicinal que o senhor está doente e a doença deve levá-lo a morte em pouco tempo; simplesmente não pude deduzir que doença(s) é/são essa(s). Como assim, ele perguntou meio intrigado depois daquela maratona gigantesca de exames não podiam identificar a doença? Não é nada que conhecemos (nós a medicina, eu digo), disse Dr. Benway quase sorrindo por trás dos seus óculos, a barba negra perfeitamente aparada como que tremendo, ciciando alguma coisa, você deve voltar pra casa e tentar viver como os outros; mas como assim, quanto tempo eu tenho de vida, disse ansioso pra caralho, porque não sabia o que seria certo dizer numa ocasião daquelas, em que você acaba de descobrir que está doente de morte e não há remédio possível; não é certo: dias, meses, talvez anos - quem poderá dizer? É uma doença nova, totalmente ausente da literatura medicinal, não dá pra prever os efeitos possíveis, nem receitar qualquer remédio - só sugiro que tente seguir a vida com a alegria de sempre: é impressionante como alguns doentes terminais ainda conseguem se relacionar seguramente com seus colegas, inserem-se na sociedade, no mercado de trabalho, com uma alegria realmente contagiante: é mesmo a sua própria consciência de brevidade que os anima a desfrutarem bastante cada um de seus dias restantes - e alguns ultrapassam bastante a previsão dada pelos médicos, muitas vezes... O doutor parecia estar excitado por debaixo das calças. Não há mais nada que você possa fazer por mim? Temo que não, respondeu comicamente o médico.