quinta-feira, 23 de julho de 2015

O Rio quer se tornar Ibiza

Tenho que admitir que tenho estado muito muito interessado em te matar, assim, é uma ideia que tem me passado muito pela cabeça, sabe? Sem drama, não quero que isso pareça querer dizer nada, e sem nenhum rancor também. É só que está cada vez mais frequente eu me pegar longas horas imaginando isso, idealizando formas, maneiras, um certo cenário, as vezes lentamente, outras um tiro na cabeça e fim, as vezes com tortura e tal. Sabe? Não, não, não tem por quê, você está sendo limitado, meio careta até, se me permite dizer, pensar numa causalidade; não é pra ser motivado, nem pra ser pensado como reação a nada, simplesmente é, sabe, "ser enquanto ser" ou algo desse tipo. Não sabe? Achei que você já tivesse lido Heidegger, não? Eu mesmo nunca li li, só assim, de passagem, alguns trechos de Ser e Tempo numa aula de mestrado que eu fiz uma vez na Filosofia. Foi ótimo. Você nunca escutou essa expressão "ser enquanto ser"? - nem sei exatamente se é essa expressão, pra ser honesto, mas... viu? Você nem conhece a expressão, sabe, esse é o tipo de coisa que as vezes eu penso em te dizer quando me imagino te prendendo numa cadeira e cortando a sua orelha, tipo Cães de Aluguel, mas conseguindo te queimar vivo sem que me matem antes, eu estaria bem atento a isso no momento, claro, seria bizarríssimo que eu tentasse emular uma cena de um filme, nessa onda a-realidade-que-tenta-representar-a-imagem-e-não-o-contrário, e realmente surgisse inesperadamente alguém e me matasse antes de te queimar exatamente que nem no filme. Bom, de qualquer forma, você ainda estaria sem orelha - e eventualmente seria morto mais tarde, né? - o que me reconforta um pouco, devo dizer... Você já viu Cães de Aluguel, eu presumo... Como não, cara? Caralho, você é muito alien - quer dizer, eu me sinto muito alien a maior parte do tempo, mas isso pra mim é bizarro, Cães de Aluguel é super batido, todo playboy assiste e diz que é o melhor filme do mundo, ou sei lá, Bastardos Inglórios... Sim, o que o Hitler morre no cinema. Pelo menos esse você viu. Gostou? Não? Porra, eu acho foda. Bem irado, pra ser honesto. Mas, bom, o que estava dizendo é que eu tenho cada vez mais imaginado essa situação de homicídio cruel, sempre bastante cruel, com níveis de perversidade radioativos, saca, e passo horas pensando nesses detalhes obscenos, e como evitar que você se desvencilhe da tortura ou que eu seja eventualmente pego ou morto, como nessa cena do Cães de Aluguel que você não viu, mas de um modo geral eu sempre acabo achando que eu vou ser pego, que vai ficar na cara que fui eu, sabe? Tipo, na real, parece que o que realmente me impede de executar, de te matar ridiculamente, de te empalar ou, sei lá, qualquer coisa muito muito cruel, é só mesmo o medo da represália depois. Que nenhuma educação de nenhuma ordem me tirou essa vontade estúpida de te torturar sem qualquer causa aparente. Você acha que tem causa? De novo acho que você está sendo meio careta... Eu sei, ok, uma possível "causa" inconsciente, mas, tipo, eu revisitaria essa sua pseudo-psicanálise ou sei lá de onde você tira essas noções, porque eu não acho que toda aparente loucura ou esquizofrenia seja automaticamente recalque ou algum "complexo" de castração ou apenas uma "pulsão de morte" ou "patrocínio" - epa, quer dizer... como é mesmo?, assassinato do pai é...? Me escapou... Ah, você entendeu, aquela história toda de assassinato primordial e tal. Acho que pode até ser, e talvez o seja na maior parte dos casos hoje em dia, mas sempre também é mais que isso, e não acho que exista um tal estado saudável de sanidade que o Freud parece estar sempre propondo e tal... Ah, sim, eu concordo. É verdade. Sim, sim, acho que sim. É, por exemplo, quando eu era criança eu lia muito e detestava os livros da Lygia Bojunga, sabe? Daí adolescente eu tive uma releitura dela e achei maneiro essa pegada meio "temas adultos nos livros infantis", sabe? Achei maneiro bater de frente com essa moralização idiota do que deve ser produto para crianças, sempre um politicamente correto bastante idiota. Mas hoje em dia, eu detesto a Lygia Bojunga, não muito por qualquer atributo da sua obra, mas porque ela é uma dessas mantenedoras de "direitos autorais" e, sei lá, fez uma editora própria só pra não ter que "ceder os seus (ditos) direitos" e não deixa ninguém adaptar os livros dela pro teatro ou coisas assim, cheia de mimimi. Cara, eu detesto essa idiotice de direitos autorais, é uma cascata deslavada, pretensamente para "proteger os artistas" (o que quer que isso queira dizer), pretensamente um "direito", essas merdas todas - direito de imagem, direito autoral - é tudo inventado pra mercantilização da arte, apenas pra isso - e quando inventaram isso, isso que eu estou dizendo era a própria argumentação da parada, pros artistas fazerem dinheiro etc. sei lá. Mas hoje em dia as pessoas falam como se fosse um direito natural do ser humano, tipo, apelam pra Declaração Universal dos Direitos Humanos ou coisas nesse nível, sabe? É muita burrice. Mas do que a gente tava falando mesmo? Ah é, a importância da infância... é verdade, eu concordo com isso. Não sei dizer exatamente como, mas acho que sim. E traumas e tal. Concordo a vera... Mais uma? Caralho, aqui é caro pra cacete. Tá, pede mais uma, vou no banheiro.
Cara, desculpa voltar a isso, mas acho que a gente tem intimidade pra essas coisas. Cara, de novo, eu tava no banheiro, e cheio de merda e mijo pra todo lado - eu sempre abro a porta com o pé e tento dar descarga com o pé também, pra não encostar nessas superfícies super contaminadas - e eu pensei em te afogar no vaso ou alguma coisa bem escatológica assim; mas daí me lembrei que tem aquela viatura da polícia ali na frente daquela boate, então eu provavelmente seria pego e foi isso que meio que abortou a minha imaginação... Tá, a gente pode mudar de assunto, ok. Sim, sim, eu meio que ouvi falar. De relance. Uma parada meio homofóbica, não é? Ah, mas, cara, eu tenho duvidado muito dessas coisas que neguinho faz circular por aí, tipo bar homofóbico e tal, e daí você vai saber melhor o que rolou e descobre que os caras importunaram pra caralho por horas a fio e vieram na moral pedir pra baixar o tom, daí rolou baixaria e porradaria, e daí é imediatamente "homofobia", tipo de argumentação fácil e pobre; ou chama qualquer tipo de ato contrário de "fascista", mais pela força da palavra, pra acabar de vez com o cara, porque ninguém vai querer se posicionar como fascista ou como homofóbico, claro - a não ser, lógico, fascistas e homofóbicos "assumidos", tipo um Bolsonaro, mas estou pensando numa galera menos abertamente fascista e que com certeza não se diz fascista - você meio que corta qualquer discussão sobre qualquer coisa deixando implícito que ser contra aquilo ou interferir ou abafar aquilo é ser automaticamente o oposto, ou seja, fascista, homofóbico, machista etc. sabe? Justamente. Justamente, e neguinho acaba entrando numa lógica de espetacularização da política, sem perceber que, essa sim, é uma estratégia, um modus operandi do fascismo, derreter a estética em política necessariamente, e não o contrário... Dilma. Nulo? Respeito, pensei muito no nulo, mas li uns artigos que o Chico Alencar postou na página dele tipo na semana antes do segundo turno e mudei de ideia. Mas não queria muito me alongar nisso... Vai lá, vai lá.
Não tá? Pois é, é grotesco, mas eu confesso que diversas vezes mijo randomicamente pra frente pela diversão de emporcalhar a parada, sabe? Movimentos brownianos de pau!