quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

presságios na zona sul

E sem decidir como escrever minha história
está muito difícil escrever
olho amigos tampouco eles estão melhores também como folhas novas secas pisadas craquelando
Sinto presságios

Nos desejos recalcados seculares telúricos reboando nos subsolos da cidade e prontos para ejacular lava dos orifícios encanamentos proibidos
Nos talheres de prata quebrados familiares tradicionais tilintando pelos corredores do castelo nas escadarias das universidades nos fortes históricos nas masmorras dos olhos dos pais
Nos socos violentos voadores que velejam os ventos de inveja e luxúria pelas bordas das asas das borboletas - como já disseram
Nos fundos das festas sufocados de gemidos agudos agulhas genitálias babando fundo nos corpos dançantes
Na saudade & tortura & gozo das fotografias analógicas; pra que serve minha carteira de motorista, meus óculos novos, os prêmios universitários, o número da previdência social, os cálculos das tarifas bancárias, as copas de escritórios com coleta seletiva e campanha de agasalho e adoção de animais fofinhos...?
Nas prateleiras mesas computadores almoxarifados terabytes ambulantes desesperados repletos cobertos de foster wallace, miguel gomes, marcio abreu, ginsberg, burroughs, borges, godard
Nos prédios de manhanttan, seus mapas de metrô esgoto linhas de ônibus ataques terroristas como cartografias móveis avançando pelas sinapses da mente gerando trovoadas que decepam os nomes de personagens de fotos de turma, excrementos em forma de novos endereços, cartas de amor talvez
Nas batalhas virtuais perdidas são sempre perdidas e o sôfrego sofrer repetitivo sobre a enorme vontade de ser dos seres
No religioso risco dos esportes radicais, no sagrado voar das aves e das nuvens (especialmente sobre os morros verdes da zona sul), nas trágicas ceias de natal repletas de peru e vinho e família, na bíblica inflação dos aluguéis, nos proféticos livros de deleuze & guattari e críticas aos livros de deleuze & guattari, no helênico ciclo-ativismo, no lindo traço dos lápis 2B S2, na heróica editora cobogó, queria listar mais
Nos olhos cinza-sinceros semi-sorrindo dos amigos perdidos morando mal, sentem sede na boca e no rabo, fugidos, imigrantes tristes empilhando empilhados passos de jabuti na europa dos corações sangrantes e nas trocas de namorados, me sinto trocado, eu sei os segredos, quem me dera não errar dessa vez
Nos distúrbios mentais dos seus olhos cinzas & cabelos lindos em praças do rio som de coco & maracatu prédios prédios prédios adeus soçobrados sobrados adeus ninguém aguenta olhar pra cima tanto tempo tudo sobe, os preços e os prédios
Nas lentes lindas da minha câmera analógica vejo meu avô e meus amigos nus como índios, greve dos garis e chorume concentrado de um milhão de reveillons pentecostes copacabana
Nas selvas dos miolos dos pentelhos dos estudos dos cabelos dos sistemas de pensamento do apichatpong das músicas do frusciante dos desejos complicados complicadíssimos
Na música eletrônica ~~~~~~~~~~
No seu beijo e baba e bunda e fundo e tudo que não cabe no seu quarto armário apertados bichos de pelúcia patrulhando a seborréia que escorre interminável do seu orgasmo galático derretendo nossa cama de cacos de vidro sobre os azulejos hidráulicos históricos do piso que seus pais escolheram, somos putaria jurássica