Todo o seu universo é um boxe de chuveiro. Ali vive sempre desde sempre e, até onde pode imaginar e teorizar, para sempre. É só. O Boxe é um quadrado de 1,20 metros, quatro lados (L1, L2, L3 e L4) determinam paredes cobertas por azulejos coloridos também quadrados de 10cm; dividindo L1 em 3 partes e L2 também em 3 partes traça-se uma reta (c) entre seus terços, reta que forma, junto com os segmentos de L1 e L2 a partir da aresta L1-L2 um triângulo retângulo, claro. Essa reta diagonal é a Cortina, de forma que a Área=1,20m² - 0,08m²= 1,12m² é todo o espaço habitável do universo (fig.a). A Cortina estende-se do chão até uma altura(h)=1,92m e tem desenhos repetitivos seriados de ondas senoidais que formam pares opostos entre si que se arrastam verticalmente, entre cada par, um círculo (fig.b). Na aresta L3-L4, a uma altura de 1,85m, há o Chuveiro de metal polido que exuma um jato pluridirecionado de água potável em intervalos e intensidades variados, que cai ao chão e escorre pelo Ralo circular de r=2cm. A água varia de temperatura, sempre no gradiente de 1°C à 50°C, também aleatoriamente. O Boxe tem h=2m, de forma que as paredes L3 e L4 têm, cada uma, exatos 240 azulejos brancos, verdes e azuis, mas sem nenhum padrão aparente de ordenamento; o que determina um V=2840L, entretanto, quando tenta enchê-lo, posicionando seu pé sobre o Ralo de forma a tampar o fluxo de água, deve considerar 1. o seu próprio volume a ser deduzido do Volume Total do Boxe; 2. o fato de que a água começa a escorrer quando atinge h=20cm, metade das suas canelas, de onde se deduz que há um espaço além da Cortina por onde a água escapa, possivelmente um banheiro. De fato, a existência do banheiro pode ser certificada por 1. a fosca transparência da Cortina, que deixa revelar alguns pequenos detalhes como pia e privada; 2. a Cortina não cobre toda a altura (h=2m) do Boxe, deixando livre uma fresta de 8cm entre sua haste e o teto, pela qual a sua observação (i.e. da fresta), quando escala as paredes criando forças opostas com as duas pernas (de preferência quando o Chuveiro está desligado), revela a continuação do teto até o horizonte. A possível existência do banheiro não é somente uma dramática ampliação do universo, determinando novos limites para este (i.e. o universo), mas traz em si a possibilidade de outros espaços além do banheiro que poderiam ser visualizados do banheiro, ou seja, a descoberta do banheiro amplia o universo ao infinito. Entretanto, apesar dos fenômenos 1 e 2 colaborarem para a existência do banheiro, revelando então que o universo seria maior que o Boxe, não pode deixar de avaliar que é possível 1. as imagens desfocadas de pia e privada visualizadas pela Cortina estejam impressas na própria (i.e. na Cortina), colaborando com o desenho de curvas seno e reagindo aos raios luminosos como um holograma, de forma que assemelhem-se a uma imagem formada atrás da Cortina, mas na verdade estejam na Cortina; 2. que a extensão do teto vista pela fresta acima da Cortina seja um espelhamento do teto do interior do Boxe, criado (i.e. o espelhamento) pelas próprias partículas de água e gases presentes no ar, tornando assim impossível visualizar, de fato, o Possível Banheiro. Ainda restaria esclarecer o destino da água que escapa do Boxe quando atinge (i.e. a água) h=20cm. Uma reflexão mais apurada nota que também a origem da água pelo Chuveiro e seu sumiço através do Ralo determinam um sistema aberto. É necessário, portanto, reconhecer que, banheiro ou não, há algo além do Boxe. É fácil descartar a possibilidade de que a água que desce pelo Ralo e que escapa à h=20cm (supostamente por debaixo da Cortina) seja a mesma que flui randomicamente do Chuveiro, uma vez que a água que chega pelo Chuveiro é impecavelmente limpa e potável, enquanto a que escorre pelo Ralo ou escapa do Boxe à h=20cm está quase sempre impura, quando não totalmente contaminada por excrementos (e.g. fezes). A não ser, claro, que o Chuveiro possua algum sistema próprio de filtragem interna ainda não revelado.
A ideia do Possível Banheiro assombra, 1. pela já mencionada ampliação infinita do universo; 2. porque, a não ser pelas parcas imagens difusas de privada e pia presentes na Cortina, nunca viu um banheiro, nem mesmo uma privada ou uma pia: as supôs. Pensou (já não mais pensa) que se pôde supor tal Ideia de Banheiro, ela tem que existir em algum lugar - mesmo que não imediatamente adjacente à Cortina - uma vez que não se pode conceber coisas jamais vistas (e.g. um espectro de cor que ultrapassa as cores visíveis). O mesmo raciocínio poderia aplicar sobre outros objetos que supunha poderem existir, uma vez que essas Ideias compunham um universo muito maior do que o Boxe e seus 2840L (e.g. outra pessoa).
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