quarta-feira, 31 de março de 2010

O poema presente

to com o rancor de todo tronco dárvore
preso na garganta
não sei direito
as vezes acho que passarinho só pode contar história
não sei direito

to suando que nem jogador de futebol
sem fazer nada
e com um torcicolo dos diabos
sem fazer nada
só saudosando aqueles olhos arteiros

Um passarinho me contou
que pra voar mais alto que avião e nave espacial
a gente precisa ser poeta
quanto maior somos no poetismo
mais alto é o salto nosso

Então faz de conta
que esse passarinho nos deu asa
porque a gente recitou direitinho e bonito
e vamos pra Lua, cravar nossa bandeira
na torre de nosso castelo de areia

domingo, 28 de março de 2010

Telefonadamente

Quanto tempo pode passar
dentro de um universo
de um verso?

-Acho que foi por engano...
discou o número errado,
ou foi trote.

Telefones - alguns, nem todos -
são meio sentimentais
têm uns que nem tocam

Tá na hora de trocar de plano
A minha operadora
é uma merda

Aprendi a tocar piano,
com as teclas do celular
gravei seu número.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Janela incompleta

O que me devora é o seu cheiro
O que me excita é o seu cabelo
O que me envolve é o seu espaço
O que me alimenta é o seu miado
de gata gaga engaiolada
O que me atormenta é o seu semblante
O que me entorpece é a suas costas
O que me encruzilha?
Inda não sei
O que me vai de volta é a vossa voz
Acho que é hora de se acarinhar
Onde o vento que balança a sua saia?

segunda-feira, 22 de março de 2010

Irmão, meu irmão

Irmão, irmão meu
filho de mesma mãe e pai
cresce, esquece, e vai
não pense no que já morreu

Vamos viver dos amores
das cantigas de Orfeu
subindo, sozinhos, nos nossos sofreres
ao mais alto andar dos arranha-ceús

Entendo os seus quereres,
caprichado e zeloso irmão,
mas é hora de andar na contra-mão.

Ergue esse rosto bretão!
Espalhemos nossas mentes, sementes,
qual Cosme e Damião.

sábado, 20 de março de 2010

Herói

Há mó tempão
rolava um maluco
(aquele macaco do 2001)
que catou um osso de merda
virou prum bonde
de uns sete viados
e disse:
"eu contra rapa!"
e desceu a porrada nos maluco

Papo reto

(pô, nem discutam
esse poema é com certeza pior que 2001)

Poeta Playsson

sábado, 13 de março de 2010

Acidentado

O circo chegou num barco
e de cara
a zona portuária
virou o point da galera indie

Traziam - o circo, não os indies -
barris e barris de pólvora
feitas no Paquistão
- fogos de todas as cores!

"Pra maiores de dezoito anos"
dizia a classificação etária
mas claro quer rolou um montão
de gente com identidade falsa...

Era dezoito anos
só porque a princesa Bradubuldur
dançava nua em pêlos
entre véus, ventres e bolhas de sabão

O show começava com uma banda
de rock muito underground
composta por cinquenta e um caras e meio
(porque um deles não tinha pernas)

Luzes e fogos, entram os animais!
Dumbo e Ganesh, os elefantes;
Mickey, Minie, e os pulantes de Hamelin
Nero, Pumba, Tião e suas fezes!

Equilibrava-se, quixote, o espantalho
numa corda, em cima
da bicicleta de Duchamp
com seus pés de curupira

Depois, surfando numa piscina
de jacarés cheios de borboletas nas bocas,
veio o dotado domador David,
que matou Golias no fim do seu número;

Trezentas mil quatrocentas e doze
pulgas pululavam pelos pirulitantes trapezistas
nus e cegos, que declamavam
cantos gregorianos e poemas de Gregório de Mattos;

Do céu de lona choveram fios prateados,
quando as equilibritas virgens
se masturbaram de cabeça pra baixo numa corda bamba
ao som de Atom Heart Mother;

Sete carpideiras bêbadas desmoronaram o público
enquanto existencialistas se contorciam
dentro de suas prisões de liberdades
e frases nietzschianas foram encontradas dentro das pipocas

Os Cavaleiros do Apocalipse baixaram
em médiuns na platéia,
e o espírito de Caim matou todos
que se chamavam Abel - ou Abelardo

Então saiu um mágico do chão
e, como truque final,
fez o dinheiro de todos aparecer
em suas cuecas e meias!

Citônio saiu transformado!
Sentia-se cheio de cidade - acidentado!
(porque não pode ser acidadado, né?)
Citônio: acidentado pelo circo!

quinta-feira, 11 de março de 2010

Cacilda

O muleque tava andando por ali
perto daquela academia perto da farmácia
e pisou na maior merda
que tinha na cidade

"Caralho! - digo, merda!"
A parada era feia mesmo.
Mas aí ele sentiu
um tremelique estranho:

Aquela merda enorme
era orgânica, verde, saudável
e o muleque se sentiu mais uno
com a natureza
meio hippie.

quarta-feira, 10 de março de 2010

João Pirralho

João Pirralho era uma aberração pra sempre
na oitava série
O cara catou catapora com catorze anos!
Teve uma vez que chutou um cachorro
porque riu do seu arroto

Ele morou na rua, até os sete anos
e não foi pra escola
foi a escola que foi pra ele
na forma de um pássaro!
feio e remelento - acho que era um pombo...

João Pirralho era uma aberração pra sempre
no ensino médio
mas foi trocado por um mês grátis de academia pela mãe
e teve que escolher ser aberração
ou casado

sábado, 6 de março de 2010

A rima que falta

Encaixa perfeitamente
no espaço lhe dado ali,
no verso lha dado em mim,
poema que sigo em frente.

É a rima do de repente
que vivo quando te vi
na valsa dessa ciranda,
na dança desse repente.

Sussura-se tu daqui;
na volta, sou todo ida;
que falta tenho de ti!

Declamo-me todo a ti:
te amo, rima perdida,
a rima que falta aqui...