terça-feira, 23 de junho de 2009

Penas

I.
Era um ar cheio de nada
Não tinha nada
Nem vida
Nem morte

Não tinha expressão
Ou cheiro
Insípido, inodoro e incolor

As coisas secavam
Mas nunca morriam,
Pois da morte não dependiam
Para serem semi-mortos
Mas quase sempre secavam.

Tudo seco
Tudu secu

Os lábios rachavam nos beijos
E o sangue não molhava.

II.
Mudo meu modo.
Mamãe me mensagiou
No celular.
Tenho assuntos mais importantes
Que a secura de uns.
Ou talvez não.
Não, não tenho.
III.
A terra toda rachada,
Como os lábios antes referidos,
Emanava um calor e zumbidos
Que faziam o ar de nada
Dançar.
A pele estava em carne
Mas não era viva
Era simplesmente
Seca
Ao lado do casal de namorados
Secos, no deserto do sertão
De seus modos cheios de nada,
Havia um passarinho triste.
Pululava no solo insalubre
Das serelas e sestas esquecidas
Em querelas de passarinho
Metido a poeta.
A pena do passarinho
Era cadenciada, muito suave
Estufada, como peito de atleta;
Graciosa, como peito de ave.
Suas linhas eram muito lentas
Tinha uma plumagem de cores escuras
E passava, passarinho, fome.
O casal não tinha penas.
Não tinha nenhuma pena.

2 comentários:

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