quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O Descante de Arlequim

A Lua ainda não nasceu.
A escuridão propícia aos furtos,
Propícia aos furtos, como o meu.
De amôres frívolos e curtos,

Estende o manto alcoviteiro,
À cuja sombra, se quiseres,
A mais ardente das mulheres
Terá o seu único parceiro.

Ei-lo. Sem glória e sem vintém,
Amando os vinhos e os baralhos,
Eu, nesta veste de retalhos,
Sou tudo quanto te convém.

Não se me dá do teu recato.
Antes, pulido pelo vício,
Sou fácil, acomodatício,
Agora beijo, agora bato,

Que importa? Ao menos o teu ser
Ao meu anélito corruto
Esquecerá por um minuto
O pesadelo de viver.

E eu, vagabundo sem idade,
Contra a moral e contra os códigos,
Dar-te-ei entre meus braços pródigos
Um momento de eternidade...

Manuel Bandeira

Um comentário:

  1. já ía falar: "cacete, ian, vc tá melhorando mesmo com esse troço de escrever poesia!"... achei que fosse sua por um momento, não conhecia essa...
    caraca, desculpa lula, mas manuel bandeira é que é o cara...

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