segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A Seca

Eu bebi o tutano dos ossos do sertão
Eu bebi a própria seca
Eu bebi os sem-terra,
os sem-teto, os sem-tudo.

Eu bebi o vento vazio
bebi a vazante do rio
bebi o vagante vadio
e o esterco da gralha.

Eu bebi o som do guizo
Eu bebi a roça rude
e o retalho de uma mortalha
Eu bebi o riso.

Eu bebi o trinar do açude
e dos passarinhos
curió, canário, pintinho
Eu bebi o beijo dos costumes.

Eu bebi o suco dos legumes
da seriguela, do suor, do sol
Bebi o silêncio da praça;
bebi cigarro e cerveja.

Eu bebi cereja e acerola
Eu bebi a própria desgraça
Eu bebi o azul e o branco
e bebi o canto e as estrelas

E, então, eu bebi o trovão.

E todos eles sairam sedentos
De suas casas
Olhando, com olhos suados,
O céu
E a serenata da zabumba do trovão

E todos eles beberam, sedentos,
Da chuva cheirosa do sertão.

4 comentários:

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