domingo, 7 de fevereiro de 2010

Esse grão

Havia um grão de areia
dentro da calça dele
e é sobre isso
que essa poesia vai tratar.

Havia um punhado de gente no mar
um montão de areia na praia
mas um único grão
no calção dele.

Havia uma ciranda tranquila no ar
um canto de bicho no céu
uma boca abrindo num beijo
no banco da praça, ali perto.

Mas quero falar desse grão.
Que ninguém via, que ninguém
- nem ele - sentia
que era perdido do mundo.

Ele vinha de uma praia das Antilhas
mas já passara pelo susto
do fundo do mar
e por um deserto, na Europa.

Correra nos ventos alíseos
secara a garganta de um índio
e viajou no cabelo de um hippie
cruzando os montes andinos.

Sonhava visitar Nova Iorque;
queria ver a neve de perto
e tocar as nuvens!
Era um nefelibata, coitado.

Para onde iria aquele grão?
E depois, passaria por que reinos,
por que estações, que povos?
Ninguém poderia dizer...

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