Leo, você me alimenta ensina alisa afina limita lapida decifra acende sibila enrola aperta espreme descobre desvenda sugere empurra fornece germina come.
A odisseia começa aqui.
Leo, se ao menos você acordasse, se ao menos você levantasse; mas eu cuido de você enquanto isso, eu te amamento, pode deixar, pode me sugar à vontade, pode se sujar à vontade, pode se lambuzar à vontade, pode se servir à vontade, deixa a vontade te guiar, deixa que eu cuido de você enquanto isso.
Leo, eu visto branco no quarto branco de móveis brancos luz branca fundo branco grades brancas roupa branca e te coloco no meu colo branco e te forneço meu leite branco e te ofereço meu peito branco a minha alma branca; as mãos atadas em volta do corpo.
Leo, você ainda é quente como legumes como macarrão como cozidos como molho como língua como sopa; as vezes eu te perco das minhas mãos, as vezes eu não te sinto mais colado em mim, as vezes não te sinto mais me sugando e aí choro, claro; choro o leite branco que você não está tomando; choro o leite que você não está mamando.
Leo, por que você não me bebe agora? por que você não me chupa agora? por que você não me come agora? quero te sentir como um canudo.
Ela, tão sem memória, tão presa de si, explodiu a cabeça ontem. Literalmente. Pegou em uma pistola calibre 42 mirou pela boca, ela sabia o que estava fazendo, seu pai trabalhava com essas coisas, com psiquiatria, ela sabia onde estava mirando, ela pegou a pistola, enfiou-a fundo na boca, fez pontaria e puxou o gatilho.
Leo, quero te abraçar como antigamente, não, não como antigamente, quero te abraçar como aprendemos, daquele jeito que aprendemos juntos, eu ao seu redor como uma mãe.
Leo, se nada mais der certo, se eu não te achar, se eu secar, se eu não puder mais te nutrir, te cuidar, te proteger, quero por fim te comer.
Ela, atordoada olhou pros miolos arrancados a fogo da cabeça como quem contempla o próprio filho pela primeira vez. Literalmente. Pegou-o no colo devagar, zelosa, mãe: mostrou-lhe o seio esquerdo, ela sabia o que estava fazendo, o seio do coração, ela mostrou-lhe o seio esquerdo e deu-lhe de mamar com um sorriso inesquecível e um brilho de aviador nos olhos azuis.
Eu tenho que falar contigo.
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