Sempre que Citônio dizia no colégio que escrevia poesia, chamavam ele de viado. "Poesia é coisa de viado." Demorou quase três meses pra Citônio perceber que é verdade. (Não é à toa que estou escrevendo um conto, forma bem mais máscula de redação). Mas demorou mais ainda pra ele perceber que poesia tem muito mais a ver com internar coisas do que com externar. Feito isso, foi à Biblioteca Nacional, tirar direitos autorais sobre certos poemas primorosos seus. Chegando nas escadarias pedrosas da fachada, avistou ninguém mais, ninguém menos do que a gatinha mais gostosa da escola: Loirelinda, filha de um diretor da Globo, casado com uma professora e chefe de departamento de alguma ciência aí na UFRJ.
Inspirado pelos deuses mais sacanas de todos os credos do mundo, mais todos os brasileiros, encantou-se com a ideia estapafúrdia de uma belíssima intervenção urbana: a leitura declamada e apaixonada - e apaixonante, quem sabe? - de um de seus poemas, para ela, a musa cor-de-rosa em chortinhos diins, de pernas delgadas e fosforecentes, que subia, rebolante e lentamente, os degraus. O "soneto dos caramujos" lhe pareceu conveniente, ao que se enjoelhou no esquerdo, pos a mão ao peito, e declamou-o com voz de ganso.
No segundo verso já se arrependera, mas achou melhor não parar no meio, talvez fosse ainda pior. O fato é que percebeu que todos pararam a sua volta, com risos escorrendo pelas caras, e puxavam celulares e máquinas para registrar o acontecimento tão logo ele se iniciara. Havia até mesmo um, chamado Duracel, que já estava filmando a coisa antes dela começar! Mas, de todos, somente Loirelinda não reparara, e continuara com seus passos bambos de calopsita até adentrar no saguão da biblioteca.
Citônio terminou a recitação sob uma ovação desconcertante de várias pessoas e lhe pediram mais um, e depois mais um, e depois mais outro, ao fim do qual anunciou que, para mais, procurassem o blog dele.
Atordoado, pegou o metrô e voltou para casa, sem registrar uma só poesia.
Ainda que não tivesse conquistado Loirelinda, Citônio passou a ser dono de um dos blogs mais badalados (diferente deste aqui) e os vídeos todos foram para internet - o de Duracel foi o com mais vistos, porque era o único completo.
Citônio aprendeu que ajoelhar-se não favorece a voz e que dói o joelho, além de sujar as calças.
coisalindadideus
ResponderExcluirhahaha, demais.
ResponderExcluirQue cadência, hein, mocinho? Às vezes acompanho.
ResponderExcluirnota deis, meo!
ResponderExcluirvocê tá ficando refinado, pelo menos pra mim!
ResponderExcluirJá sou fã do Citônio *-*
ResponderExcluirSerá que se eu desgastar minha calça, joelhos e voz, meu blog fica mais badalado? hahah
duvido ligeiramente...
hm
ResponderExcluirIrado!
ResponderExcluirMuito bom!
Um conselho: conte mais!
ÓTIMO !!!
ResponderExcluir