segunda-feira, 3 de maio de 2010

Sustos

Os melhores amigos de Citônio chamavam-se Trivela e Zepelin. Ela, colecionadora de latinhas de refrigerante e jogadora de futebol; ele, líder do cineclube no colégio e comunista brechtiniano. Os dois viviam um caso secreto que Citônio desconhecia e se encontravam dizendo que iam na biblioteca ou no bebedouro, enquanto, na verdade, se escondiam no subsolo para namoros de treze e catorze anos, respectivamente.
Citônio só começou a perceber alguma coisa estranha na festa de quinze anos do Paracelso, um colega redondinho que fazia malabares com facas, tochas e seus três rãmisters, ao mesmo tempo. A casa dele não era tão grande e, mesmo tendo chegado juntos, Citônio não encontrava com Trivela desde que ela fora no banheiro retocar a maquiagem e não esbarrava com Zepelin desde que ele saira pra amarrar os sapatos ao ar livre. Rodando da sala para a varanda, da varanda para o quarto e do quarto para a cozinha, Citônio passou quase meia hora na pista dos dois. Encontrou-os entrando novamente na casa, Trivela com menos maquiagem do que antes, embora Zepelin parecesse mais rosado. Quando lhes perguntou o que fora, ela disse que foi checar o que Zepelin estava fazendo... Citônio, que estava de olho em Loirelinda - que dançava Na Boquinha da Garrafa - deixou pra lá o incidente.
Não voltou a pensar no assunto até o dia em que foi fazer um dever na casa de Trivela. Por conta dessas causalidades inexplicáveis, Citônio acabou vendo-a nua em pêlos quando abriu o armário, a procura de folhas de rascunho e giz de cera, e, por mais que tenha desviado rapidamente o olhar no primeiro susto dos dois, não teve como não reparar nela naqueles instantes de segundo. Foi então que percebeu que ela estava namorando com alguém, porque, desde que fizera aquele curso de desenho de modelos vivos (em que só comparecia nos dias de modelos femininos), aprendera a reconhecer as mulheres solteiras das casadas ou envolvidas em relacionamentos. Ela se justificou, dizendo que no seu quarto do apartamento em que morava antes, ela tinha um closet, o que permitia que ela se trocasse trancada, mas que, agora, ainda não conseguira se acostumar à ideia de armário apertado. Citônio, no entanto, não prestava muita atenção, mas lembrava-se da festa de Paracelso e das saídas estranhas e repentinas para a sala de artes na hora do recreio...
Citônio aprendeu a dançar funk.

3 comentários:

  1. huahuahuhuhauhu putz, meu, lindo!
    adorei, sério *-*
    a parte que ela chegou sem maquigem e ele mais rosado, muito boa!

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  2. Quem conta um conto, aumenta um ponto!
    2x0
    parabéns!

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  3. huum...
    você vai gostar do livro que te darei.
    Se inspirou no autor!

    2x0 (2)

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