domingo, 16 de agosto de 2009

Evilano Vila

I.
Evilano Vila
Marujo de alto-mar

Homem camarada
Sempre a velejar

Cego de um ouvido
Mudo no calar

Nunca aportava
Seu amigo é o nada

Evilano Nada
Marujo a velejar

Homem de um ouvido
Sempre no calar

Mudo camarada
Cego de alto-mar

Nunca aportava
Seu amigo é ouvi-la

II.
As brumas do mar me fazem cego
O balanço das ondas me condena
A espuma me alimenta de desejo
Porque sou um grande marinheiro
Condenado a velejar sozinho,
Uma pena.
Mesmo com todo o meu dinheiro
Sou pobre, sou faminto, sou doente
Drogado infeliz de corpo podre
Ao mar me lançaria, se pudesse
Achar alguém que more lá que me receba.

Já escrevi muitas cartas a amigos marinhos:
A maioria dos peixes me rejeitou;
O tubarão me disse não;
Os cavalos-marinhos avaliaram;
Nenhum cetáceo me gostou...

Fiquei no limite
No horizonte do mundo
Na fronteira do que é bonito
E do que é feio
Os dois igualmente belos
Como o céu e o mar:
Um é salgado e aconchegante
Como coração de bruxa-mãe,
Que sempre cabe mais um,
Mas fica meio apertado;
o outro é gelado e desmiolado.
Os dois são infinitos.

Um comentário:

Faça da interrupção, um caminho novo.