Tô com uma pulga atrás da orelha
Tô com o rei na barriga
Tô com uma pedra no sapato
Tô com uma carta na manga
Minuto à minuto, me vejo cego
E, sem ver, assisto à tudo
Espero, e a cegueira me mete um medo
Dos infernos profundos.
E, nesse cenário dantesco,
Às vezes rio, às vezes rezo,
A ver o mundo como um cego
A viver no inferno sem contexto.
Então, das profundezas do mundo
Vem um vômito que não vejo
Da cor da cegueira
E cai, no meu colo, um filósofo mudo.
É o rei da minha barriga
Filho meu da boemia
Um pobre filósofo que, mudo,
Não cantava, nem ria.
Agora, nas minhas pernas,
Sinto-lhe a bíle na timidez muda
Um gaucherismo drummondiano
Que tudo afasta e tudo quebra.
Junta-se à pulga, à carta, à pedra
Levanta-se e vai embora.
Tô melhor, mais à vontade,
Vou pra casa beber Coca-cola.
um ensaio sobre a cegueira
ResponderExcluirCegueira que engole tudo