segunda-feira, 21 de outubro de 2013

caravela

estava nela a caravela nela
a cara na chuva, a chuva na passarela
era bela a tempestade,
mela
tons de chuva em aquarela

nossa nave era uma janela
o inferno na terra
no mar o fogo, a chama, estrela
o verso gritado de um trovão
chão
oceano lambendo vagas,
língua nos lábios dela,
aqueles lábios
grandes lábios
fundos aliados, profundezas da perna

são ondas os olhos dela
aquela dita antiga ressaca
telúrica américa ereta
o mastro da caravela
aponta o teto numa prece
torce aquece espreme a água sua
sua vela estufa profana
duas velas pro céu aceso

desprezo no canto da boca do mar
assassino ancestral, irmã, incesto monstruoso
polígona estrutura
antígona
morre e fratura
cai no deque, dura

perdura!
vive! avança!
frígido olhar sem esperança,
a tormenta te grita
a onda te lambe, língua vaga, sem dança
ah! pau duro quebrado
ventos frios do seu lado
chuva chupa a proa, esse brocado
de trás, de frente, de lado

sem força,
sem corda,
sem vela,
sempre a força primeva
perdura na vigília
foi-se o sonho apaixonado
veio a insônia eterna

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